“Se eu permanecer nesse ritmo de trabalho, em algum momento vou ter uma estafa, ou provavelmente vou morrer mais cedo”.
Aposto que pensamentos como esse já se passaram na sua mente.
Pois é, na minha também. Ninguém gosta de admitir que está no limite, principalmente os workaholics.
O estresse é o maior aniquilador de energia e de bem- estar. Ele retarda a produção de novas células cerebrais, reduz as taxas de serotonina e dopamina (neurotransmissores essenciais do humor), aciona a amígdala ao mesmo tempo que diminui a função do hipocampo- tornando você uma pessoa esgotada e com a memória reduzida. [1, 2]
Níveis baixos de energia não apenas prejudica sua capacidade de atingir uma alta performance como um todo, mas permeia todos os aspectos de sua vida. Sem energia você se sente menos feliz, sente como se o mundo estivesse ultrapassando você, não aceita os grandes desafios, sua confiança se esvai, você come pior e ganha peso.
O oposto também se aplica, aumente sua energia e você vai aperfeiçoar todos esses elementos. Quanto mais energia o indivíduo tem, maior a sua probabilidade de buscar níveis mais elevados de educação, de ter ideias criativas, de defender seu ponto de vista e de agir de acordo com os seus sonhos. Por esse motivo, organizações, instituições e empresas devem levar a sério o investimento no aumento da energia dos seus funcionários e alunos.
“Alta performance” refere-se ao sucesso além do padrão estabelecido, com consistência e a longo prazo. Não se trata de uma melhora sem fim. Muitas pessoas estão melhorando, mas não necessariamente brilhando- ela avançam, mas todo mundo avança também. Os profissionais de alta performance estão sempre apresentando resultados acima das expectativas. Eles possuem conjuntos de habilidades que lhes permitem ter sucesso em longo prazo e praticam meta- hábitos que os ajudam a se destacar em diversas áreas da vida. Quem alcança o alto desempenho em qualquer carreira precisa ter competência em muitas áreas que se relacionam com ela de alguma forma, além disso, os indivíduos de alta performance mantém a regularidade e superam as expectativas de maneira continua. Há uma consistência que falta na população geral, e esse é um dos motivos que os diferem dos demais e que os fazem se destacar.
Se você ainda não se considera um individuo de alta performance, deve estar se questionando sobre o quanto deve ser cansativo ser um deles, não é?
Mas eu afirmo: não é cansativo. Simplesmente porque eles possuem a tríade mágica da energia: vibração mental, física e emocional positiva e duradoura.
É preciso muita energia para ter sucesso em longo prazo, por isso, os indivíduos de alta performance possuem uma mente condicionada a cuidar da saúde e dos seus níveis de energia de maneira que esses níveis dificilmente caem ou se mantém baixos por muito tempo.
A estabilidade do sucesso advindo da alta performance se deve em grande parte à preocupação com a saúde. Não se trata apenas de conquistas específicas da profissão ou de uma área de interesse, ou simplesmente de avançar a todo custo: trata-se de criar uma VIDA de alta performance, na qual se experimenta um sentimento continuo de comprometimento, alegria e confiança para dar o melhor de si.
Indivíduos de alta performance assumem e lidam com responsabilidades, escolhas, liderança e compromisso o tempo inteiro, então precisam manter os níveis de energias sempre altos.
Se você quer se tornar um deles, fique atento ao que vem a seguir e comece a adotar essas medidas para gerar e manter níveis mais altos de energia. Afinal, energia está diretamente associada à produtividade.
Algo que talvez você ainda não saiba é que um dos principais geradores de energia é a alegria.
A emoção positiva é um dos maiores indicadores de uma boa vida- alta energia e alto desempenho. Pessoas com emoções mais positivas tem casamentos mais satisfatórios, ganham mais dinheiro e tem uma saúde melhor.[3] Quando a emoção positiva está presente, alunos se saem melhor nas avaliações[4], gerentes tomam melhores decisões e são mais eficazes com as suas equipes[5] , médicos fazem melhores diagnósticos[6] e as pessoas são mais prestativas em relação as demais.[7] Emoções positivas estimulam o crescimento de novas células (plasticidade neuronal), enquanto emoções negativas causam a sua degradação.[8] A emoção positiva é um pré- requisito para o desempenho de ponta.
Lembre –se que você é capaz de escolher seus sentimentos, e quanto mais fizer isso, mais você redesenha a maneira como experimenta as emoções. Os indivíduos de alta performance também vivenciam emoções negativas, a grande diferença é que eles lidam melhor com elas, pois escolhem orientar seus pensamentos em direção a estados positivos. Eles conscientemente cultivam alegria e, consequentemente, geram mais energia mental para desempenhar as suas atividades.
Uma dica bacana para começar o dia de maneira mais positiva é a que Brendon Burchard trás no seu best-seller do New York Times “O poder da alta performance”. Consiste basicamente em fazer três perguntas a si mesmo, todas as manhãs, quando estiver no chuveiro:
- Com o que eu posso me animar hoje?
- O que pode me atrapalhar ou me estressar e como posso reagir de maneira positiva a partir do meu eu ideal?
- Quem posso surpreender hoje com um agradecimento, um presente ou um momento de reconhecimento?
O motivo da primeira pergunta é que a antecipação pode ser tão poderosa na liberação de hormônios como dopamina, que trás felicidade, quanto o fato alegre em si.[9] Esse autoquestionamento faz com que você já comece o dia pensando e buscando motivos para alegrar-se, mesmo que o seu dia seja cheio de obrigações, trabalho e eventos estressantes. Isso gera mais energia.
A segunda pergunta é para seguir a prática dos profissionais de alta performance de imaginar possíveis situações de estresse e a maneira que seu eu ideal poderia lidar com elas. Pensar nos obstáculos e falar consigo mesmo na segunda pessoa pode ser até mais contundente do que na primeira, pois lhe dá uma perspectiva – uma espécie de “autocoaching”. [10, 11] Você se distancia de si mesmo e se treina como treinaria um amigo, sobre as maneiras de lidar com uma circunstância difícil. Esse processo também é conhecido como “desfusão cognitiva”, uma prática que consiste em externalizar e se distanciar das emoções ou situações difíceis. Por exemplo: se você está lidando com ansiedade, você pode ser ensinado a dar um nome a sua ansiedade. Assim, o problema deixa de ser a própria ansiedade e passa a ser um vilão externo. Isso permite que você “se divorcie” do problema. Dessa maneira, você é capaz de perceber que a questão externa vem bater a porta e você pode escolher abrir ou não.
A terceira pergunta se justifica porque encontrar maneiras de surpreender os outros proporciona uma dose dupla de bondade: você recebe uma onda de gratidão só por poder pensar nas pessoas que pode agradar ou surpreender, e a outra quando você compartilha gratidão e reconhecimento com elas.
Se você está sempre apressado, ansioso, estressado ou ocupado, então que energia está ensinando os outros a adotar? Se não trouxer mais atenção plena e alegria para a sua vida pelo simples aprimoramento pessoal, faça isso por aqueles que estão ao seu redor e que de alguma maneira podem acabar contagiados por sentimentos negativos dos quais você não cuidou.
Indivíduos de alta performance cultivam a alegria a partir da maneira como pensam, das coisas em que estão focados, da maneira como se dá o seu comprometimento e de como isso se reflete em seus dias. É uma escolha: direcionar suas vontades e seus comportamentos para gerar alegria.
Essa simples prática matinal pode criar antecipação, esperança, curiosidade e otimismo- todas as emoções positivas que levam a felicidade e a resultados positivos na saúde como taxas mais baixas de cortisol, menos estresse e maior longevidade. [9]
Escolha alegrar-se! A nossa vitalidade determina, em ultima análise, como trabalhamos, amamos, pensamos, nos relacionamos, nos movemos, reverenciamos e lideramos. Faça da melhora da sua energia um compromisso e comece a tirar mais momentos do dia para liberar a tensão do corpo e da mente. Escolha trazer mais alegria para a sua experiência cotidiana!
Dra. Társila Machado.
Referências:
- Ghosh, S. et al. “Functional Connectivity from the Amygdala to the Hippocampus Grows Stronger after Stress”. Journal of Neuroscience, v. 33, n. 17, pp 7234- 7244, 2013.
- Isovich, E. et al. “Chronic Psychosocial Stress Reduces the Density of Dopamine Transporters”. European Journal of Neuroscience, v. 12, n. 3, pp. 1071- 1078, 2000.
- Lyubomirsky, S. et al. “The Benefits os Frequent Positive Affect: Does Happiness Lead to Success?”. Psychological Bulletin, v. 131, n. 6, pp. 803-855, 2005.
- Bryan, T.; Bryan, J. “Positive Mood and Math Performance”. Journal of Learning Disabilities, v. 24, pp. 490-4, 1991.
- Sy, T. et al. “The Contagious Leader: Impacto f the Leader’s Mood on the Mood of Group Members, Group Affective Tone, and Group Process”. Jornal of Applied Psychology, v. 90, n. 2, pp. 295-305, 2005.
- Isen, A.M. et al. “The Influence of Positive Affect on Clinical Problem Solving”. Medical Decision Making, v. 11, n. 3, pp. 221-227, 1991.
- Isen, A. M., & Levin, P. F. “Effect of feeling good on helping: Cookies and kindness”. Journal of Personality and Social Psychology, 21(3), 384-388, 1972.
- Davidson, J. et al. “Emotion, Plasticity, Context, and Regulation Perspectives From Affective Neuroscience”. Psychological Bulletin 126, pp. 890-909, 2000.
- Lemonick, M.D. “The Biology of Joy: Scientists Know Plenty about Depression. Now They Are Starting to Understand the Roots of Positive Emotions”. TIME: Special Mind and Body Issue, 9 jan. 2005.
- 10.Duckworth, A. et al. “”Self-Regulation Strategies Improve Self-Discipline in Adolescents: Benefits of Mental Contrasting and Implementation Intentions”. Educational Psychology, v. 13, n. 1, pp. 17-26, 2011.
- 11.Kross, E. et al. “Self-talk as a Regulatory Mechanism: How You Do It Matters”. Journal of Personality and Social Physicology, v. 106, n. 2, p. 304, 2014.